Dez bailarinos, altamente qualificados, da CIA. ORMEO, emprestam seus corpos para nos ajudar a refletir em como percebemos o universo que nos cerca: como nos vemos e vemos o outro; como o outro nos vê; como identificamos o mundo e as trivialidades que constituem nossos dias; de que maneira nos reconhecemos no outro e com que grau de acuidade nos vemos, quando, corajosamente, mergulhamos em nós mesmos.
O cenário, excepcionalmente belo e eficaz, é, a um só tempo, pálpebra, retina, lente, óculos distorcendo, deformando, transformando, reconstruindo formas e cores. É barreira, obstáculo, reflexo, microscópio, lente de aumento, espelho. Separa, recorta, multiplica e oferece uma miríade de possibilidades de re-ver aquilo que acreditamos re-conhecer. Sobre ele, imagens e textos repetem o mundo que vemos refletido nas vitrines, na superfície das lentes dos óculos (que nos protege, escondem, revelam, auxiliam ou mascaram), na superfícies das águas, no fator multiplicador dos espelhos.
A iluminação é, em si mesma, uma justificativa para assistir-se o espetáculo, tal sua riqueza de sutilezas, de claros e escuros, de sombras e tons. Mariana Terra demonstra um enorme talento para a arte de criar espaços e emoções usando luzes e gelatinas filtrantes como pincéis, recriando "olhares" novos para sentimentos comuns e eternos.
Aos bailarinos, que exalam energia, seja nos movimentos nervosos ou nos "silêncios" dos gestos congelados, cabe instigar no público o desejo de traduzir o que é visto para a experiência individual. Ou seja, tudo o que se vê no palco do Centro Cultural Humberto Mauro é uma cartilha de educação amorosa do olhar.
Grupo homogêneo, onde todos se harmonizam e compartilham momentos essencialíssimos, a CIA ORMEO mostra que atingiu sua maioridade. Seguros, permitem-se comungar prazer e técnica, e o espetáculo torna-se uma celebração, um culto, um ritual. David Peixoto, entre os bailarinos, resume esses momentos de sagrada beleza, ao utilizar respiração, voz, estalidos de dedos e movimentos de grande força física e paixão, em seus quase-solos.
RETINA estará sendo reapresentado na noite de hoje, 9 de dezembro, a partir das 20:00h, no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases-MG. A entrada é franca mas há um preço: entregar-se com prazer, com volúpia, sem preconceitos; disponibilizar seus olhos, seus ouvidos, o pulsar do seu coração. Deixar-se conduzir pelo corpo de dança pelos meandros do ver.
Estou convencido que ninguém sai o mesmo após assistir ao espetáculo: sai melhor, volta a ver o seu entorno como um recém nascido o vê: com deslumbramento.
Bom espetáculo a todos!
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