segunda-feira, 11 de março de 2013
O Meu Pé de Laranja Lima: escrita & movimento
A Casa de Leitura Lya Botelho tem a satisfação de abrir, nesta segunda-feira, 11 de março, o acesso a um espaço temático em homenagem ao escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos, cuja obra, de caráter regionalista, sempre encontrou repercussão no imaginário das pessoas.
Nascido em Bangu, bairro da cidade do Rio de Janeiro, é um dos escritores brasileiros mais lidos no exterior, sendo muito respeitado em todo o mundo. Filho de família muito pobre, ainda menino mudou-se para casa de uns tios, em Natal, no Rio Grande do Norte, onde foi criado. Aos 9 anos aprendeu a nadar nas águas do Potengi, quando alimentava seus sonhos de ser campeão de natação. Depois de cursar Medicina por dois anos, voltou ao Rio, num velho cargueiro (1941) onde trabalhou como técnico de boxe, modelo para escultores, carregador de frutas, entre outros serviços.
Com uma vida nada fácil, foi para São Paulo onde começou como garçom de boate e passou por outros empregos até que ganhou uma bolsa de estudos na Espanha, período em que viajou por vários países da Europa. De volta ao Brasil trabalhou junto aos irmãos Villas-Boas, principalmente explorando a inóspita região do Araguaia. Desta aventura resultou seu primeiro livro de estréia, "Banana Brava" (1942) sobre o mundo dos homens dos garimpos. Depois veio "Barro Blanco" (1945) sobre as salinas de Macau, no Rio Grande do Norte, seu primeiro grande sucesso de crítica. "Longe da Terra" (1949), "Vazante" (1951), "Arara Vermelha" (1953) e "Arraia de Fogo" (1955) o sucederam. Porém só com "Rosinha, Minha Canoa" (1962), atingiu o primeiro sucesso literário e ganhou fama como escritor, sendo este livro utilizado em curso de Português na Sorbonne, em Paris. "Doidão" (1963), sobre sua adolescência em Natal, "O Garanhão das Praias" (1964), "Coração de Vidro" (1964) e "As Confissões de Frei Abóbora" (1966), antecederam seu maior sucesso popular, "O Meu Pé de Laranja Lima" (1968), que foi adaptado pela antiga TV Tupi e pela TV Bandeirantes como novelas televisivas e também levado ao cinema (1970).
Foi também artista plástico, ator de teatro e televisão e morreu em São Paulo, aos 93 anos. Viveu, pois, nos mais diferentes recantos do seus país e exerceu uma imensa variedade de profissões. Assim, conheceu muitas culturas e diversos tipos de pessoas e desenvolveu um estilo simples e emotivo, cujos livros transportam os leitores a um mundo de ternura e de alta sensibilidade. A crítica francesa Claire Baudewyns afirma que há em suas obras algo "que confere às obras de José Mauro de Vasconcelos uma poesia particular, nascida da alquimia entre o mundo real e o mundo imaginário"
Em sua vasta obra, iniciada aos 22 anos de idade e lida em alemão, inglês, espanhol, francês, italiano, japonês e holandês, entre outras línguas, ainda se destacaram "Rua Descalça" (1969), "O Palácio Japonês" (1969), "Farinha Órfã" (1970), "Chuva Crioula" (1972), "O Veleiro de Cristal" (1973) e "Vamos Aquecer o Sol" (1974) e vários de seus livros ganharam versões cinematográficas.
Vale observar que sua autobiografia foi escrita de forma um tanto incomum, em uma seqüência de quatro livros, de forma romanceada: "O meu pé de laranja lima", sua infância em Bangu, "Vamos aquecer o sol", sua mudança para Natal, "O doidão", a adolescência, e "Confissões do Frei Abóbora", sua vida adulta.
Nos últimos 9 anos a produtora Kátia Machado trabalhou incansavelmente para levar à grande tela do cinema, uma nova versão do "O meu pé de laranja lima", por acreditar que essa história ser contada e reapresentada a toda uma nova geração, até chegar, com o co-roteirista e diretor Marcos Bernstein, a uma versão final do roteiro, que traduzisse o espírito do livro, trazendo-o para um novo tempo e espaço.
Neste final de semana aconteceu em no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases-MG, a pré-estréia do "MEU PÉ DE LARANJA LIMA", da produtora Pássaro Films, com o suporte do Polo Audiovisual da Zona da Mata. Dia 19 de abril o filme estréia no circuito comercial, ocupando as muitas salas de cinema do nosso país.
A Casa de Leitura Lya Botelho aproveita-se desse lançamento para promover uma série de ações que
incentivem a leitura. E quando escrevo "leitura" quero que o conceito se estenda à todas as formas de leitura dos caracteres, das palavras, dos signos, das imagens, do mundo ao redor, enfim.
Tão importante quanto ler o livro "O meu pé de laranja lima" é estabelecer um paralelo com a sua versão cinematográfica, enfatizando temas como o que é um roteiro adaptado, a criação de novos diálogos apropriados ao ritmo cinematográfico e, em especial, o processo de transmissão de idéias e valores através da imagem.
O livro nos possibilita a criar o nosso próprio "filme", a darmos forma e rosto aos personagens, sons às suas vozes, a imaginarmos a paisagem e os acontecimentos. O livro estimula a imaginação. O filme, por sua vez, nos apresenta todo um universo pronto para consumo, construído pela sensibilidade do roteirista, do diretor, e dos demais artistas e técnicos encarregados a darem vida às páginas da obra original, adaptando-a a um outro suporte que não o do papel. O filme nos incentiva a refletir a respeito do que vimos. Ambos são experiências únicas e tem qualidades e recursos próprios. Ambos podem e devem ser vistos como um diálogo entre criadores, artistas comprometidos a contarem, cada um dentro da sua especialidade, a mesma história, sem o compromisso da fidelidade absoluta, pois a Arte é uma manifestação de talentos individuais.
Esse espaço dedicado ao livro e ao filme "MEU PÉ DE LARANJA LIMA" ficará aberto até 29 de junho, esperando alunos, professores e demais visitantes para conhecerem de perto um pouco mais desse grande escritor brasileiro, que cujos livros tem neles gravados as cores, os cheiros, as paisagens, os personagens e as vozes deste imenso Brasil.
Apoio Cultural: Fundação Ormeo Junqueira Botelho / Pássaro Films
Patrocínio: ENERGISA
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