LEOPOLDINA E LUIZ RAPHAEL: UM CASO
DE AMOR
Professor, artista plástico, conservador, pesquisador, ativista
cultural, memorialista são alguns dos qualificativos que Luiz Raphael Domingues
Rosa soube tão bem assimilar e pelos quais é lembrado e reverenciado. Fiel representante
dos chamados “homens Renascentistas”, indivíduos de múltiplos e admiráveis
talentos, deixou um legado de inestimável valor do qual, hoje, a Casa de
Leitura Lya Botelho hospeda uma parcela na exposição “LEOPOLDINA E LUIZ
RAPHAEL: UM CASO DE AMOR”.
Se a sua luta preservacionista é por todos conhecida, na
árdua labuta em manter e impedir que desaparecessem os traços da permanência do
poeta paraibano Augusto dos Anjos na cidade, é em sua expressão artística que vamos
encontrar o desenhista, o pintor, o professor mas, sobretudo, o atento
memorialista.
Se me permitirem fazer uma analogia, poderia dizer que o
poeta e músico leopoldinense Antonio Sérgio Lima Freire (1945-2008), o Serginho
do Rock e Luiz Raphael, o “Fael”, contemporâneos que foram, compartilharam uma
singular característica: praticamente toda a sua produção artística é centrada em
sua terra, na “pequena” Leopoldina, em seus tipos humanos e sua geografia. Cada
um, à sua maneira, preservou “instantâneos” da cidade e seus arredores
exaltando suas formas, seus aspectos mais corriqueiros, a sua singela beleza,
preservando-a para sempre, inalterada.
Como artista plástico, autor de diversas aquarelas, desenhos
telas a óleo e acrílica, Luiz Raphael associa o olhar amoroso do cidadão
apaixonado pela sua terra e seu povo com um outro, mais preciso, menos idealizado,
o do memorialista comprometido no registro da verdade, do real. Observa-se em muitas
de suas obras a precisão quase fotográfica no desenho e colorido dos elementos
arquitetônicos existentes associados a um entorno onde o ser humano e demais
elementos são “interpretados” mais livremente pelo artista. Herdeiro de uma
longa tradição de pintores documentaristas que incluem nomes como Debret, Rugendas,
Eckhout, só para citar os mais conhecidos, que tiveram como missão registrar em
todos os seus detalhes um Brasil recém-descoberto, Luiz Raphael olha para a sua
cidade com a mesma admiração de quem a vê pela primeira vez. Os “anjinhos” na
festa da Igreja do Rosário, a marcante presença do Morro do Cruzeiro, as
palmeiras imperiais da Praça Félix Martins, a velha sorveteria, em tudo há
poesia e verdade. A realidade coexiste inseparável do olhar amoroso do artista.
Esta exposição, que acontece durante a passagem do
centenário da morte do poeta Augusto dos Anjos, de quem Luiz Raphael definia-se
como “mordomo”, reúne obras de diversas épocas, pertencentes a coleções
particulares, inclusive da própria família do artista e que foram gentilmente
cedidas graças ao valioso empenho do pesquisador leopoldinense Elias Abrahim
Neto.
O visitante irá, certamente, identificar lugares e situações
ao visitar a mostra, aceitando o convite do artista para “re-ler” sua cidade,
renovando seu olhar e estima pelas suas belezas naturais e outras edificadas
através de gerações. Nesse resgate de valores, a importância da conservação
patrimonial e o seu registro através de todas as manifestações artísticas e
equipamentos tecnológicos se faz evidente e necessária. Não há futuro onde o
passado é negado, omitido, abandonado. Provavelmente não teríamos o Museu Espaço
dos Anjos na própria casa onde viveu e morreu o poeta, não fosse pelo empenho
abnegado de Luiz Raphael Domingues Rosa. Não estaríamos hoje apreciando sua
obra, não fosse o cuidado dos proprietários desses quadros expostos em
conservá-los, da família Domingues Rosa e, naturalmente, do patrocínio da
ENERGISA, da Prefeitura Municipal de Leopoldina, Secretaria de Educação e Secretaria de Cultura, Esportes, Turismo e
Lazer de Leopoldina e o contínuo apoio da FOJB-Fundação Ormeo Junqueira
Botelho.
Convidamos, então, a todos para apreciarem Leopoldina
através do sensível e apaixonado olhar de um dos seus mais destacados filhos.
Salve, Luiz Raphael!
A exposição permanece aberta ao público de 4 de novembro a 20 de dezembro de 2014.
Leopoldina, Novembro/Dezembro de 2014
Alexandre Moreira, Coordenador da Casa de Leitura Lya
Botelho
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