sexta-feira, 28 de novembro de 2014


LEOPOLDINA E LUIZ RAPHAEL: UM CASO DE AMOR


Professor, artista plástico, conservador, pesquisador, ativista cultural, memorialista são alguns dos qualificativos que Luiz Raphael Domingues Rosa soube tão bem assimilar e pelos quais é lembrado e reverenciado. Fiel representante dos chamados “homens Renascentistas”, indivíduos de múltiplos e admiráveis talentos, deixou um legado de inestimável valor do qual, hoje, a Casa de Leitura Lya Botelho hospeda uma parcela na exposição “LEOPOLDINA E LUIZ RAPHAEL: UM CASO DE AMOR”.

Se a sua luta preservacionista é por todos conhecida, na árdua labuta em manter e impedir que desaparecessem os traços da permanência do poeta paraibano Augusto dos Anjos na cidade, é em sua expressão artística que vamos encontrar o desenhista, o pintor, o professor mas, sobretudo, o atento memorialista.

Se me permitirem fazer uma analogia, poderia dizer que o poeta e músico leopoldinense Antonio Sérgio Lima Freire (1945-2008), o Serginho do Rock e Luiz Raphael, o “Fael”, contemporâneos que foram, compartilharam uma singular característica: praticamente toda a sua produção artística é centrada em sua terra, na “pequena” Leopoldina, em seus tipos humanos e sua geografia. Cada um, à sua maneira, preservou “instantâneos” da cidade e seus arredores exaltando suas formas, seus aspectos mais corriqueiros, a sua singela beleza, preservando-a para sempre, inalterada.

Como artista plástico, autor de diversas aquarelas, desenhos telas a óleo e acrílica, Luiz Raphael associa o olhar amoroso do cidadão apaixonado pela sua terra e seu povo com um outro, mais preciso, menos idealizado, o do memorialista comprometido no registro da verdade, do real. Observa-se em muitas de suas obras a precisão quase fotográfica no desenho e colorido dos elementos arquitetônicos existentes associados a um entorno onde o ser humano e demais elementos são “interpretados” mais livremente pelo artista. Herdeiro de uma longa tradição de pintores documentaristas que incluem nomes como Debret, Rugendas, Eckhout, só para citar os mais conhecidos, que tiveram como missão registrar em todos os seus detalhes um Brasil recém-descoberto, Luiz Raphael olha para a sua cidade com a mesma admiração de quem a vê pela primeira vez. Os “anjinhos” na festa da Igreja do Rosário, a marcante presença do Morro do Cruzeiro, as palmeiras imperiais da Praça Félix Martins, a velha sorveteria, em tudo há poesia e verdade. A realidade coexiste inseparável do olhar amoroso do artista.

Esta exposição, que acontece durante a passagem do centenário da morte do poeta Augusto dos Anjos, de quem Luiz Raphael definia-se como “mordomo”, reúne obras de diversas épocas, pertencentes a coleções particulares, inclusive da própria família do artista e que foram gentilmente cedidas graças ao valioso empenho do pesquisador leopoldinense Elias Abrahim Neto.

O visitante irá, certamente, identificar lugares e situações ao visitar a mostra, aceitando o convite do artista para “re-ler” sua cidade, renovando seu olhar e estima pelas suas belezas naturais e outras edificadas através de gerações. Nesse resgate de valores, a importância da conservação patrimonial e o seu registro através de todas as manifestações artísticas e equipamentos tecnológicos se faz evidente e necessária. Não há futuro onde o passado é negado, omitido, abandonado. Provavelmente não teríamos o Museu Espaço dos Anjos na própria casa onde viveu e morreu o poeta, não fosse pelo empenho abnegado de Luiz Raphael Domingues Rosa. Não estaríamos hoje apreciando sua obra, não fosse o cuidado dos proprietários desses quadros expostos em conservá-los, da família Domingues Rosa e, naturalmente, do patrocínio da ENERGISA, da Prefeitura Municipal de Leopoldina, Secretaria de Educação e  Secretaria de Cultura, Esportes, Turismo e Lazer de Leopoldina e o contínuo apoio da FOJB-Fundação Ormeo Junqueira Botelho.

Convidamos, então, a todos para apreciarem Leopoldina através do sensível e apaixonado olhar de um dos seus mais destacados filhos. Salve, Luiz Raphael!

A exposição permanece aberta ao público de 4 de novembro a 20 de dezembro de 2014.

Leopoldina, Novembro/Dezembro de 2014

Alexandre Moreira, Coordenador da Casa de Leitura Lya Botelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário