REMEMÓRIA 80
A Casa de Leitura Lya Botelho, dentro do projeto
“Leopoldina: Memória e Patrimônio”, vem pelo 2º ano consecutivo propor uma
reflexão sobre os bens culturais, materiais e imateriais, que representam as
estruturas onde o núcleo social constrói sua história.
O acervo do leopoldinense Elias Abrahim Neto, cuja parcela
referente aos anos 80 do século passado é o motivo desta exposição, constitui
um exemplo de como o cidadão comprometido com seu tempo e lugar pode dar guarda
à história local, colecionando-a através do olhar atento e a significativa
seleção e registro dos fatos.
Em todo o mundo a década de 80 foi de grandes mudanças,
tanto no comportamento das pessoas, seja pelo avanço tecnológico ocorrido ou
pelas revoluções e crises políticas. As Artes em geral, como sempre, muito bem
refletiram esses tempos atribulados apropriando-se da crescente evolução
tecnológica e sua popularização (fotografia e vídeo digital, internet,
computadores domésticos, TV’s a cabo, etc) para diagnosticá-los e registrá-los.
Elias Abrahim Neto foi um desses cidadãos que se apropriaram
dos benefícios das novas tecnologias e equipamentos disponíveis para registrar
e comentar o seu tempo. A facilidade oferecida pela câmera fotográfica compacta,
mais leve e o acesso a novas máquinas
impressoras, inclusive às potentes e sofisticadas fotocopiadoras,
possibilitaram que o jovem Elias pudesse expressar-se mais e melhor naquilo que
muito lhe agradava: o registro de tudo o que possa constituir o patrimônio de
sua cidade natal.
Nasceu então o ALMANACK DO ARREBOL, de formato inspirado nos
existentes almanaques que costumeiramente eram distribuídos em farmácias e
outros prestadores de serviços. Em muito lhe agradava a liberdade de, num mesmo
material, poder abordar a arte e a cultura ao entretenimento. De pequeno
formato, a revista, dependendo de patrocinadores, circulava com alguma regularidade
e existiu até a sua 9ª edição trazendo entrevistas com pessoas de destaque na
cidade, registrando fatos e ocasiões de importância, dando espaço para que escritores,
memorialistas, desenhistas, gravadores e fotógrafos pudessem se expressar e, à
maneira dos demais almanaques circulantes, explorando o lazer através do humor,
tirinhas e palavras cruzadas.
A importância do ALMANACK DO ARREBOL é justificada pelo
registro de iniciativa independente de pessoas e eventos que se mostravam
importantes nos aspectos socioeconômicos e culturais daquela década, em
Leopoldina, em plena Zona da Mata mineira. Sem competir com os jornais
existentes na época, o ALMANACK pode ser visto como um precursor dos
suplementos culturais de hoje.
A exposição que ora apresentamos pretende levar o visitante
a uma viagem àquela década através do olhar de Elias Abrahim Neto. São centenas
de fotos dos seus arquivos pessoais, registros realizados por ele sem
pretensões artísticas outras do que a de perpetuar uma cidade que estava começando
rapidamente a se transformar, perdendo ou substituindo algumas das suas
características, adquirindo nova silhueta e desenvolvendo novas maneiras,
costumes e necessidades. Ruas, praças, construções, pessoas, festas populares,
eventos políticos, personagens locais, praticamente tudo e todos ocuparam a
atenção de Elias. Basta, entretanto, um passar de olhos nessas fotografias e
nos textos e imagens de qualquer dos números do ALMANACK DO ARREBOL para
percebermos que não há a fria e pretensa neutralidade jornalística nos
elementos expostos. Ao contrário, o autor se dispõe comentar, pelo recorte do
seu olhar, aqueles tempos, sua própria terra e seus habitantes, num eloquente
registro crítico e sentimental.
Graças ao patrocínio e apoio da ENERGISA, da Prefeitura
Municipal de Leopoldina, da Secretaria de Educação e da Secretaria de Cultura,
Esportes, Lazer e Turismo, bem como da FOJB-Fundação Ormeo Junqueira Botelho, a
Casa de Leitura Lya Botelho tem a grande satisfação de apresentar o Acervo
Elias Abrahim Neto na certeza que o mesmo possa ser inspirador para o melhor
conhecimento da História e valorização da Cultura local. Esperamos que o
visitante reconheça, assimile e desenvolva a importância da preservação e
catalogação dos bens culturais da cidade para o enriquecimento do registro da
História local. Os futuros cidadãos leopoldinenses agradecerão essa iniciativa.
A exposição permanece aberta ao público de 04 de novembro a 20 de dezembro de 2014.
Leopoldina, Novembro/Dezembro de 2014
Alexandre Moreira, Coordenador da Casa de Leitura Lya Botelho
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