O Pagador de Promessas foi o primeiro, e até agora o único filme
brasileiro, a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Após o recebimento do prêmio em Cannes, o diretor, Anselmo Duartem, e a equipe do filme
que viajou até o Festival, foi recebida com um desfile público em carro
aberto, ao desembarcar no Brasil.
Merecida homenagem, pois o filme é uma verdadeira obra de arte, em todos os seus componentes.
Zé do Burro (Leonardo Villar, num dos seus melhores momentos) é um homem humilde que enfrenta a intransigência da Igrejaao tentar cumprir a promessa feita em um terreiro de candomblé de carregar uma pesada cruz por um longo percurso, até depositá-la no interior de uma igreja em Salvador-BA.
Esse é o tema central da peça de Dias Gomes, respeitado autor teatral (O Bem Amado, o Berço do Herói, O Santo Inquérito) e de inesquecíveis novelas da TV brasileira (Saramandaia, Roque Santeiro, O Bem Amado, Irmãos Coragem, etc). O sincretismo religioso, tão arraigado em nossa cultura, onde grande parte da população professa sua fé através de mais de uma forma de expressão religiosa, e a intolerância da qual ainda é e faz vítimas, permeia a história desse pequeno e inocente lavrador nordestino em seus périplos para agradecer a uma graça recebida.
O autor, Dias Gomes, porém, via nessa trama uma reflexão política ainda mais profunda, onde os direitos de cidadão, dentro de uma sociedade capitalista, são frequentemente ameaçados e acabam vitimizando aqueles que a ela se rebelam:
“O
HOMEM, no sistema capitalista, é um ser que luta contra uma
engrenagem social que promove a sua desintegração, ao mesmo
tempo que aparenta e declara agir em defesa de sua liberdade
individual. Para adaptar-se a essa engrenagem, o indivíduo
concede levianamente, ou abdica por completo de si mesmo. O
Pagador de Promessas é a estória de um homem que não quis
conceder – e foi destruído. Seu tema central é, assim, o mito
da liberdade capitalista. Baseado no princípio da liberdade de
escolha, a sociedade burguesa não fornece ao indivíduo os meios
necessários ao exercício da dessa liberdade, tornando-a,
portanto, ilusória”
Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionízio de Azevedo, Norma Benguell, Geraldo Del Rei, Othon Bastos e Antonio Pitanga emprestam seus talentos para compor personagens marcantes da dramaturgia nacional, onde nos reconhecemos em seus erros e acertos, em suas qualidades e defeitos. O cinema brasileiro poucas vezes teve um elenco tão adequado e capaz reunido para uma de suas produções. O diretor, Anselmo Duarte (1920 - 2009) ganhou a Palma de Ouro e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 1962 com "O Pagador de Promessas", filme que também concorreu ao Oscar melhor filme estrangeiro em 1963. Também dirigiu outros clássicos do cinema nacional, como Absolutamente Certo e Vereda da Salvação, mas, devido a divergências ideológicas com a turma do Cinema Novo, sua carreira entrou em declínio.
A Videoteca da Casa de Leitura Lya Botelho apresenta esse clássico na quarta-feira, dia 02 de maio, às 19:30h. A entrada é franca e a censura é 14 anos.
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