quinta-feira, 7 de junho de 2012

Racismo e Ideologias Políticas nas Histórias em Quadrinhos: uma oficina com a Profª Natania Nogueira



As tirinhas e as revistas em quadrinhos, como qualquer forma de arte, são um produto da geração que as criou. Em alguns casos, é bom ver o Capitão América usar de todo o seu patriotismo norte-americano para dar uns chutes nos traseiros dos nazistas. Em outros casos, no de um chefe indígena...

Ainda assim, como a própria sociedade, os quadrinhos se esforçam para seguir em frente, evoluirem e se afastarem dos pecados do passado. Claro que quadrinistas, desenhistas, editores fizeram algumas decisões raciais bastante ruins ("Devemos chamar todo super-herói negro de "Negro Isso ou Aquilo", pois assim então todo mundo saberá que eles são negros"), mas pelo menos eles tentaram progredir.
Ainda que suas tentativas de abordagem de questões raciais sejam equivocadas ou mal elaboradas, você não pode culpá-los por tentar, certo?

Oh, espere um pouco: é claro que você pode!

Vejam abaixo, extraído de um artigo chamado "Os 5 menos intencionalmente ofensivos personagens das revistas em quadrinhos", escrito por David Johnson no site Cracked.com:


Lois Lane, a eterna namorada do Super Homem, transforma-se numa negra e, surpreendentemente, volta a ser branca!




Na edição nº 106 da revista em quadrinhos "Lois Lane, a namorada do Super Homem" ( Superman's Girlfriend Lois Lane), os criadores e editores tentaram resolver o problema racial de uma vez por todas. Lois Lane vai para o bairro africano (Little Africa) de Metrópolis (semelhante ao Harlem, em Nova York) fazer uma reportagem sobre alguma coisa que, na história, nunca fica esclarecida, apenas que ela está indo para lá para, também, aprender sobre "negritude", esperançosa em ganhar o prêmio Pulitzer por isso. "Nossa, meus leitores vão amar saber o quanto oprimidos e pobres vocês são!"

Lois entusiasmada, se vangloria, enquanto Clark Kent se pergunta se "negros" podem ser tecnicamente considerado um enunciado de tese.


Lois circula pelo bairro africano, mas todo mundo a evita ou a chama de "Branquela, a inimiga."




Lois conclui que isso não tem nada a ver com o seu interesse em pedir às pessoas para contar-lhe o que é ser  negro e tudo o mais, mas simplesmente porque ela é branca. Então ela pede ao Super Homem que mude a cor da sua pele por um dia com seu Transformoflux, de maneira que ela possa compreender melhor o que significa ser negro.


Super Homem tenta esclarecer: "Como é que você me acusa de racismo quando eu sou o únio alienígena neste planeta?"


Então, no que isso acaba dando?

Esses quadrinhos claramente tinham um objetivo. É óbvio que os criadores queriam enviar uma mensagem de aceitação e, ainda que a idéia de "nós não somos tão diferentes, você e eu", permanece, certamente, intacta, é a pobre, ignorada população negra, na história, que aprende a lição . Lois surge como uma mulher branca e bem-intencionada, mas é ignorada. Transforma-se em uma garota negra e passa a ser convidada para festas. Ela nunca reconhece que se mostrando como uma privilegiada mulher branca que considera a cultura negra "bacana" pode parecer ignorância. Ela não consegue pensar "Ei, eu acho que as minhas perguntas arrogantes, insensíveis foram, em algum momento, rudes," mas, por isso mesmo, acaba concluindo que os negros odeiam os brancos sem nenhuma razão. Isso, obviamente, não passa nenhuma mensagem de tolerância, mas acaba afirmando que "as pessoas negras são racistas." E, também, que o Super Homem deveria usar os seus poderes em causas mais importantes.




Na sua pesquisa, a agora negra Lois Lane conhece uma família pobre que a recebe por algum tempo, Eles estão passando por um período muito difícil, mas são as pessoas mais doces e otimistas no mundo. Lois Lane reage de forma grosseira e insensível:

"Desculpem-me, mas eu estou muito comovida em ver como a vida que vocês levam é horrorosa".


Obviamente a mulher está sorrindo e tem um bebê saudável, mas isso não impede que Lois pense em como verdadeiramente terrível sua vida é. Ela não consegue parar de chorar só em pensar na vida miserável que essas pessoas negras levam ...

Lois também se depara com um jardim de infância improvisado e um ativista (que, quando ela, Lois, era branca, a chamou de "a inimiga"). Eles tem um contato extremamente amigável , até que ele, o ativista, é baleado por alguns traficantes de drogas. Observação: mesmo que Super Homem deixe claro nos quadrinhos que, como estrangeiro, ninguém, mais do que ele, sabe o que é ser "diferente", isso não muda o fato de que ele claramente poderia ter salvo o ativista de levar um tiro:

"Não se preocupe, Lois, eu te trago de volta ao que você era. O rapaz negro, ele... ele parece que está com tudo sob controle. Tudo bem?"

Lois Lane doa seu sangue para salvá-lo e no momento em que ele está para recuperar os sentidos, sua cor negra começa a desaparecer e ela vai-se tornando branca, novamente.

Este é o grande momento destes quadrinhos. Continuará o rapaz negro a chamá-la de "a inimiga", mesmo depois dela term, valentemente, doado seu sangue para ajudá-lo, ainda que ela seja uma mulher branca? Ela fica sinceramente preocupada com isso. Ela sente-se insegura ao pensar se o homem é esclarecido o suficiente para percebê-la, além da cor da sua pele, como uma mulher trabalhadora, rica e bem sucedida, que salvou a sua vida.



Ele consegue ver isso! Hoje ele aprendeu uma valiosa lição: repórteres que surgem por aí, acreditando que a maneira que você é obrigado a viver é consequência de circunstâncias raciais socioeconomicamente prescristas, podendo, com essa história vir a entreter seus leitores brancos e privilegiados, devem ser tidos como confiáveis e receber sua atenção. Afinal, você nunca sabe quando uma pessoa branca poderá ajudá-lo, se eles acharem que devem. Portanto, seja bonzinho com eles e respondam às suas perguntas.


E assim, de maneira subliminar, os gibis, as tirinhas, as revistas em quadrinhos, também podem colaborar para exaltar a superioridade branca, criando personagens até simpáticos e superficialmente bem intencionados, mas cujo comportamento e ideologia traz um ranço de preconceito, ou desprezo com  outras etnias.

Para discutir e entender melhor esse assunto, a Casa de Leitura Lya Botelho convidou a Profª Natania Aparecida Nogueira para, no dia 22 de junho de 2012, em parceria com a Gibiteca Escolar, oferecer a oficina (gratuita) Racismos e Ideologias Políticas nas Histórias em Quadrinhos para professores da rede municipal, pública e privada do ensino fundamental ao Médio.
A proposta da oficina é explorar junto aos professores as várias possibilidade de se trabalhar temas atuais como a guerra, os racismos, a ecologia, dentre outros utilizando o recurso das histórias em quadrinhos. A Profª Natania Nogueira é coordenadora da Gibiteca E. M. Judith Linz Guedes Machado, de Leopoldina-M.
Essa oficina é parte integrante do Projeto Memória e Patrimônio Leopoldina-MG / Módulo 1: A importância do Negro no desenvolvimento sócio-econômico e cultural de Leopoldina, a ser desenvolvido pela Casa de Leitura Lya Botelho, entre os meses de Junho a Novembro de 2012, em conjunto com as escolas da rede pública e particular do município.

Período: das 14 às 17 horas no dia 22 de Junho, sexta-feira.
Vagas: 20 (gratuitas)
Local: Casa de Leitura Lya Botelho ( R. José Peres, 4 / em frente à Praça Félix Martins /  Leopoldina-MG)

As inscrições podem ser feitas no local ou pelo e-mail: gibitecacom@gmail.com ou casadeleitura@gmail.com

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