sexta-feira, 27 de abril de 2012

"O Pagador de Promessas": sincretismo e intolerância religiosa em discussão na Videoteca da Casa de Leitura Lya Botelho

     
     O Pagador de Promessas foi o primeiro, e até agora o único filme brasileiro, a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Após o recebimento do prêmio em Cannes, o diretor, Anselmo Duartem, e a equipe do filme que viajou até o Festival, foi recebida com um desfile público em carro aberto, ao desembarcar no Brasil. 

     Merecida homenagem, pois o filme é uma verdadeira obra de arte, em todos os seus componentes.

     Zé do Burro (Leonardo Villar, num dos seus melhores momentos) é um homem humilde que enfrenta a intransigência da Igrejaao tentar cumprir a promessa feita em um terreiro de candomblé de carregar uma pesada cruz por um longo percurso, até depositá-la no interior de uma igreja em Salvador-BA.

     Esse é o tema central da peça de Dias Gomes, respeitado autor teatral (O Bem Amado, o Berço do Herói, O Santo Inquérito) e de inesquecíveis novelas da TV brasileira (Saramandaia, Roque Santeiro, O Bem Amado, Irmãos Coragem, etc). O sincretismo religioso, tão arraigado em nossa cultura, onde grande parte da população professa sua fé através de mais de uma forma de expressão religiosa, e a intolerância da qual ainda é e faz vítimas, permeia a história desse pequeno e inocente lavrador nordestino em seus périplos para agradecer a uma graça recebida.


     O autor, Dias Gomes, porém, via nessa trama uma reflexão política ainda mais profunda, onde os direitos de cidadão, dentro de uma sociedade capitalista, são frequentemente ameaçados e acabam vitimizando aqueles que a ela se rebelam:

“O HOMEM, no sistema capitalista, é um ser que luta contra uma engrenagem social que promove a sua desintegração, ao mesmo tempo que aparenta e declara agir em defesa de sua liberdade individual. Para adaptar-se a essa engrenagem, o indivíduo concede levianamente, ou abdica por completo de si mesmo. O Pagador de Promessas é a estória de um homem que não quis conceder – e foi destruído. Seu tema central é, assim, o mito da liberdade capitalista. Baseado no princípio da liberdade de escolha, a sociedade burguesa não fornece ao indivíduo os meios necessários ao exercício da dessa liberdade, tornando-a, portanto, ilusória”

     Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionízio de Azevedo, Norma Benguell, Geraldo Del Rei, Othon Bastos e Antonio Pitanga emprestam seus talentos para compor personagens marcantes da dramaturgia nacional, onde nos reconhecemos em seus erros e acertos, em suas qualidades e defeitos. O cinema brasileiro poucas vezes teve um elenco tão adequado e capaz reunido para uma de suas produções. O diretor, Anselmo Duarte (1920 - 2009) ganhou a Palma de Ouro e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 1962 com "O Pagador de Promessas", filme que também concorreu ao Oscar melhor filme estrangeiro em 1963. Também dirigiu outros clássicos do cinema nacional, como Absolutamente Certo e Vereda da Salvação, mas, devido a divergências ideológicas com a turma do Cinema Novo, sua carreira entrou em declínio.

     A Videoteca da Casa de Leitura Lya Botelho apresenta esse clássico na quarta-feira, dia 02 de maio, às 19:30h. A entrada é franca e a censura é 14 anos.



Noite de samba na Casa de Leitura Lya Botelho


     O samba, expressão máxima da música brasileira, tomou conta dos iluminados jardins da Casa de Leitura Lya Botelho na noite de 25 de abril. Thaylis Carneiro e Gabriel Nunes, armados de voz, pandeiro e violão, deram um verdadeiro show com o seu "Samba de Dois", coletânea dos mais representativos exemplares desse ritmo, tão nosso, que permeia nossas raízes culturais.

     Noite agradável de outono, tudo contribuiu para que o numeroso público presente se deliciasse com as 40 músicas apresentadas pelos dois intérpretes, bem como pelas "comidinhas de botequim", magistralmente preparadas pela chef Marília Braga. Assis Valente, Ataulfo Alves, Jorge Benjor, Dorival Caymi, Vinícius de Morais, Baden Powell, Chico Buarque de Hollanda, entre tantos outros, inclusive a própria Thayles foram magistralmente homeageados no palco montado em meio a exuberância tropical dos jardins da Casa de Leitura Lya Botelho.

     Eventos como esse, onde o talento, a qualidade técnica e o profissionalismo se reunem para oferecer um produto de impecável qualidade para o público, são incentivados e apoiados pela Fundação Ormeo Junqueira Botelho através da Casa de Leitura e sempre com o patrocínio da ENERGISA, empresa que investe em todos os segmentos culturais.

     Leopoldina certamente orgulha-se em ter, entre seus filhos, talentosos jovens como essa dupla, Thaylis e Gabriel, artistas que movimentam a cena cultural da cidade e região. A Casa de Leitura Lya Botelho sente-se honrada em ter tido o privilégio de hospedar um evento dessa categoria e agradece ao público que sempre a prestigia em suas iniciativas.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

As agruras do moderno sob o olhar do genial Jacques Tati: cinema na Casa de Leitura Lya Botelho


A Casa de Leitura Lya Botelho, de Leopoldina-MG, dando continuidade ao seu projeto de exibir grandes obras do cinema mundial, mostra na quarta-feira, dia 25 de abril, às 19:30h, na sua Videoteca, um dos melhores filmes do mestre Jacques Tati, Playtime (que foi renomeado, no Brasil e em Portugal, com diversos títulos: Tempo de Diversão, Modernidade, Cidade Moderna).

Playtime é um projeto megalômano de Jacques Tati que acabou por lhe custar a falência. 
Em Playtime, Tati construiu praticamente uma cidade, com restaurantes, farmácia, prédios comerciais e até um aeroporto. Um filme que dispensa legendas, já que toda a narrativa se centra nas coreografias cómicas e encantadoras das personagens. Situações hilariantes, num filme que evidencia e satiriza o modernismo e o choque tecnológico.

Existe uma storyline, mas que é pouco relevante: turistas americanas fazem uma viagem a Paris e na sua visita de 24 horas, cruzam-se com o Sr. Hulot (Jacques Tati), um homem de negócios que se vê apanhado numa trama de avanços tecnológicos, que constituem uma barreira para alcançar os seus objetivos.

É um filme muito peculiar, já que a ação não é na maior parte das vezes centrada numa só personagem ou ação que vemos no tela. Muitas vezes, em plano de fundo, existem pequenos pormenores que fazem também eles parte do frenesi do filme. Visualmente cativante, cheio de situações ricas de humor, onde mesmo à vigésima visualização pudéssemos encontrar novas situações, que antes não havíamos reparado.

Tati tenta aqui transmitir uma preocupação com a alienação que a cidade moderna poderia eventualmente gerar nos seus moradores, através de uma narrativa simples, divertida, sem obedecer às regras, onde visualmente demonstra-se essa ideia, sem recorrer à forma clássica de contar uma história. 


Filho de pai russo e de mãe francesa, Jacques Tati, cujo verdadeiro nome era Jacques Tatischeff, nasceu em 1907 e faleceu 1m 1982. Alto, com 1,91 m, se projetou inicialmente no campo esportivo e se tornou um dos principais jogadores de rugby da França. Era um hábil mímico e durante dois anos tentou, sem sucesso, fazer carreira no music-hall. A oportunidade surgiu em um espetáculo de gala no Hotel Ritz e a partir daí ele se tornou um comediante de boulevard. Em 1932 começou sua carreira comoator e roteirista, realizando uma série de curta-metragens e de 1945 a 1946 fez dois filmes do consagrado diretor Claude Autant-Lara.
Sua carreira de cineasta começou em 1947 com "Jour de Fête" que lhe rendeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza, na Itália e o Grande Prêmio do Cinema Francês em 1950.
"Le vacances de Mr. Hulot" ('"As Férias de Mr. Hulot"), lançado em 1953, levou mais de um ano para ser completado já que Tati sempre brigava com os produtores. Ele ganhou muito dinheiro com seus primeiros filmes, mas ficou seis anos sem filmar. Quando retornou com "Playtime", uma grande superprodução com 150 minutos de duração e que lhe rendeu um prejuízo de 8000 milhões de francos, ele viu seu império desmoronar.
Em 1970 ele tentou se recuperar do fracasso comercial de "Playtime" com outro filme, "Trafic", mas apesar do relativo sucesso da fita ele anunciou a sua falência em 1974 e promoveu um leilão dos negativos das suas obras.
Ele morreu vítima de uma embolia pulmonar semanas após completar 75 anos.

Filmografia:
  • 1932 - Oscar, champion de tennis
  • 1934 - On demande une brute
  • 1935 - Gai dimanche
  • 1936 - Soigne ton gauche
  • 1938 - Retour à la terre
  • 1946 - Sylvie et le fantôme
  • 1947 - L'école des facteurs (br: Escola de Carteiros)
  • 1947 - Le diableau corps
  • 1948 - Jour de fète (br: Carrossel da Esperança)
  • 1953 - Le vacances de Mr. Hulot (br: As Férias de Mr. Hulot)
  • 1958 - Mon oncle (Meu Tio)
  • 1967 - Cours du soir
  • 1967 - Playtime (Tempo de Diversão)
  • 1971 - Trafic (As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco)
  • 1974 - Parade - feito em vídeo para a TV
SERVIÇO:
Quando: dia 25 de abril, às 19:30h
Onde: Casa de Leitura Lya Botelho (R. José Peres, 4  _ Centro / Leopoldina-MG)
Entrada grátis
Censura: 14 anos

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fahrenheit 451 - Quando os livros queimam


— O que faz nas horas de folga, Montag?
— Muita coisa... corto a grama...
— E se fosse proibido?
— Ficaria olhando crescer, senhor.
— Você tem futuro.

     "Fahrenheit 451" se passa em um futuro não muito distante (Séc. 24), onde uma sociedade totalitária é controlada por um governo ou organização chamado de a “Família”. As pessoas que vivem nessa sociedade são educadas a desempenharem determinadas funções sociais, sem se questionar muito sobre o que estão de fato realizando. O sucesso deste estado de catatônica obediência e utópica paz social deve-se, especialmente, aos cuidados tomados com a educação do povo. Ainda que isso não seja mostrado, subentende-se que nas escolas, as crianças aprendem a não-ler e que os livros são objetos considerados altamente perigosos, imputáveis de criminalidade e precisam ser queimados.

     Somos, então, apresentados ao dócil Montag (Oskar Werner), um bombeiro que, ainda que o seu status profissional assim o sugira, não tem a tarefa de apagar incêndios (uma vez que as casas são todas a prova de fogo, ou ao menos é isso que a “Famíla” diz). Os bombeiros dessa futurística sociedade são responsáveis por atear fogo nos livros, e perseguir, prender e executar as pessoas que os possuirem ou, mesmo, lerem.
     Montag segue vivendo sua metódica e passiva vida, sentindo-se integrado e normal, sem nada questionar, ainda que lhe aborreça ver sua jovem esposa sempre em frente à tela da TV, num estado que lembra a completa alienação com a vida real.
     Tudo vai bem, aparentemente, até quando o bombeiro conhece uma jovem (que pertence a um grupo de resistência ao governo) que acaba por induzi-lo a ler um dos livros que deveria queimar e, aí então, ele acaba entendendo o porque da proibição à leitura: o homem que lê aprende a pensar por si próprio, a tirar suas próprias conclusões, a adquirir conhecimento e formar uma consciência ética.

     Se bem repararmos, vivemos no presente esse "fictício" e não muito distante futuro, cada vez que identificamos como totalitária qualquer sociedade que nos induz ao consumo, prega a ideologia do capital, impõe uma maneira única de pensar e comportar.


Algumas curiosidades sobre o filme:

O título "Fahrenheit 451" é uma referência à temperatura em que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.

"Fahrenheit 451" é o único filme em inglês, e o primeiro colorido, dirigido por François Truffaut.

Todos os créditos, desde o nome do diretor, roteiristas, elenco, produtores, música, fotografia e até mesmo o nome do filme, são narrados em off, no início do mesmo, não aparecendo nada escrito na tela. Apenas no final, surge o tradicional "The End" e o nome do estúdio que produziu.

Entre os livros queimados pelos bombeiros está a revista Cahiers du Cinema, para a qual o próprio diretor François Truffaut escrevia na época.

Após o término da montagem de "Fahrenheit 451", o diretor François Truffaut declarou ter-se decepcionado com a versão original do filme, pois não gostou de alguns diálogos em inglês. Truffaut declarou ainda que preferia a versão dublada em francês do filme, cuja tradução foi, inclusive, supervisionada por ele.

Serviço:
Quando: dia 18 de abril, quarta-feira, às 19:30h
Onde: Casa de Leitura Lya Botelho (R. José Peres, 4 - Centro /  Leopoldina-MG)
Entrada franca.
Censura: 14 anos

"Samba de Dois", show de Thaylis Carneiro e Gabriel Nunes na Casa de Leitura Lya Botelho



     Thaylis Carneiro e Gabriel Nunes vão impregnar de ritmo a noite leopoldinense com seu show “Samba de Dois”. Como ritmo é algo que nasce conosco, com o pulsar dos nossos corações, a linguagem musical desses dois artistas é das mais amistosas e agradáveis.
     Vitalidade é o que não falta à música brasileira, especialmente aquela que melhor representa nossas origens e diversidade, a alegria e as paixões da nossa gente, os sabores e aromas da nossa terra. Exatamente essa mistura de sons, onde o samba, o baião, o xote, a ciranda e todos aqueles ritmos regionais que vivem em nossa memória, é o que estará perfumando os jardins da Casa de Leitura Lya Botelho, em Leopoldina, na noite da quinta-feira, dia 26 de abril, véspera do aniversário da cidade.
     Voz, violão e pandeiro. Há algo mais brasileiro? Pois é nas nossas raízes que a arte de Thaylis Carneiro se nutre. Nada de saudosismos, nem de radicalismos, pois a cantora transita perfeitamente segura e tranquila por épocas e estilos diversos, selecionando preciosidades às vezes quase esquecidas, renovando interpretações para letras bastante conhecidas, abrindo-se ao novo ao emprestar seu talento para divulgar compositores contemporâneos. Thaylis, como a artista que é, mistura tudo e tempera com os segredos que sua voz vai revelando, aos poucos, a cada canção, cantando aquilo que vive dentro de todos nós.
     O diálogo proposto pelo multitalentoso Gabriel Nunes é através do tamborilar dos dedos por sobre o pandeiro. Não pensem num “acompanhamento”, nessa sua participação , mas uma segunda voz, um bate-papo cheio de charme, de bossa e de insinuações que seu instrumento, descontraidamente, permite. Thaylis e Gabriel, Gabriel e Thaylis, esses dois, mais do que afinados parceiros, tem muito a conversar no palco, deixando-se ouvir pela atenta e deliciada platéia.
     A Casa de Leitura Lya Botelho, sempre com o apoio da Fundação Ormeo Junqueira Botelho, e patrocinada pela ENERGISA, sente-se honrada em receber essa dupla de artistas e seus convidados. Cultura, em todas os seus aspectos e possibilidades, é uma preocupação e investimento constante dessa grande empresa cujas raízes estão solidamente plantadas aqui, na Zona da Mata mineira. Ao patrocinar a existência e as ações promovidas pela Casa de Leitura de Leopoldina, a ENERGISA exerce o seu papel de incentivadora das artes e do acesso amplo e irrestrito ao conhecimento por todas as pessoas.

     Diz o dito popular que o melhor da festa é esperar por ela, então a véspera de um feriado deve ser a ocasião ideal para começar a celebrar. Thaylis Carneiro e Gabriel Nunes, voz, pandeiro e violão se propõem a fazer a trilha musical da noite que antecede mais um aniversário de Leopoldina, com a energia que nasce do ritmo do nosso cancioneiro, num presente muito especial, a ser compartilhado com todos que estivem assistindo a dupla, na Casa de Leitura Lya Botelho.


Serviço:
O que:  Thaylis Carneiro e Gabriel Nunes no show “Samba de Dois”
Quando:  dia 26 de abril, quinta-feira, às 20:00h
Onde: Casa de Leitura Lya Botelho (R. José Peres, 4 / Centro) Leopoldina-MG
Ingresso:  R$ 10,00

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Casa de Leitura Lya Botelho mostra e discute Cinema


     

     Cinema, a sétima arte, é único como linguagem e força expressiva, mas não deixa de ser uma somatória de todas as demais. Provavelmente não existiria se a humanidade não tivesse, desde os seus primórdios, buscado maneiras de registrar o que via e sentia, fosse nas paredes das cavernas, ou nos mármores de Carrara.
     Leopoldina-MG, como tantas outras cidades do interior do Brasil, não possui cinema. Já teve. Mas, pelas razões as mais diversas, inclusive o surgimento e popularização da televisão (sempre apontada como a grande vilã), os cinemas forma cerrando suas portas, apagando a luz dos seus projetores e tendo seus espaços ocupados pelas prateleiras dos supermercados, ou sendo transformados em estacionamentos.
     Essa carência, que nunca é plenamente suprida com as novas telas de TV ou projetores de vídeo, passa, desde hoje, a ser minimizada pelo Projeto "A Arte de Ver", promovido pela Casa de Leitura Lya Botelho. Todas as quartas-feiras, às 19:30h, na nossa Videoteca, serão apresentados filmes de notória importância na história do cinema mundial.
     Sem nenhum preconceito com gêneros, estilos, linguagens, origens, períodos ou autores, estaremos mostrando, sem nenhuma ordem cronológica de produção, filmes representativos em termos artísticos, que provoquem reflexões, opiniões, diálogos. Sempre que for possível ou conveniente, teremos diretores, produtores, roteiristas, atores, técnicos para debaterem, ao final da apresentação, com a audiência, mesmo porque acreditamos que essa discussão possa ser de grande valor para compreender-se a importância do cinema como forma de arte, e não apenas de entretenimento.
     Começamos com um clássico-moderno, "O Baile" (Le Bal), produção ítalo-franco-algeriana de 1983, dirigida pelo italiano Ettore Scola.



     O Baile (Le Bal) é uma peça de teatro adaptada para o cinema. Fala, portanto, as duas linguagens: aquela do palco, intensa, grandiosa, eminentemente gestual, e a outra, das telas, feita de expressões contidas, de movimentos sempre coreografados para serem captados pela câmera, de cortes, de dilatações e saltos no tempo. São duas artes, duas linguagens com muito parentesco, que dialogam.
Exercício fantástico de 25 atores que interpretavam um total de 140 personagens, foi responsável por imensas filas na porta do teatro onde a Compagnie Théatre du Campagnol se apresentou, durante anos, e, por esse motivo, atraiu a atenção dos produtores em transportá-la para o cinema. A escolha da direção recaiu sobre Ettore Scola, italiano reconhecido pela excelente, e comercialmente bem sucedida filmografia, além de uma primorosa direção de atores.
     Esse é um filme que seduz a todos, com os seus personagens, com grandes interpretações, com uma trilha sonora que é um dos mais importantes fios condutores da história, já que não há diálogos, e pelo cenário, um salão de baile, único, teatral, que vai-se adaptando, com recursos mínimos, para representar 70 anos de história de uma Paris, cjos exteriores nunca vemos, mas sentimos.


     Escritores, jornalistas, roteiristas, aqueles que fazem da escrita essência de vida e uma profissão, ficarão impressionados pela consistência do roteiro.
     Atores e estudantes das artes (circo, dança, pantomima,teatro, cinema, vídeo, fotografia), bem como aqueles que produzem imagens (pintura, foto e vídeo), encontrarão nesse filme toda uma gramática de interpretações, caracterizações, de expressão corporal, composições pictóricas, de movimentos de câmera, enquadramentos, iluminação e do uso simbólico da cor.
     Essas, e muitas outras mais, são razões suficientes para assistir-se, rever, comentar, discutir e deixar-se envolver pelo microcosmo criado por Ettore Scola nesse seu “O Baile”, de 1983.

Quando: hoje, 11 de abril, às 19:30h
Onde: Casa de Leitura Lya Botelho (R. José Peres, 4  Leopoldina-MG)
Entrada Franca (25 lugares)
Censura; 14 anos

sexta-feira, 6 de abril de 2012


     A semana vai terminando, com o feriado prolongado da Páscoa. Tempo de Renascimento. O símbolo da renovação. Da transformação, para melhor, que as ações praticadas provocam. A morte daquilo que não mais tem representatividade, cedendo espaço para que um novo e mais alvissareiro tempo se instale.
     No finalzinho da tarde da última segunda-feira, a música saudou os últimos raios de sol. Nos jardins da Casa de Leitura Lya Botelho, quase 40 jovens fizeram, com seus instrumentos musicais, uma homenagem a todos aqueles que, naquela hora, voltavam do seu trabalho, iam para seus cursos noturnos, aproveitavam para passear, levavam para casa as compras para o jantar. Simples assim. Sem alardes, sem formalidades, sem protocolos, mas cheios de vida, de amor à arte, com desejo de compartilhar indistintamente, de falar aos ouvidos e corações de todo leopoldinense.
     Idéias e ações como essa são exemplo de renovação, do descortinar de novos tempos, de que a juventude é uma força, uma esperança de dias ainda melhores no porvir. A juventude (e não estou me referindo àquela que é contada em anos) é o exemplo de continuidade, de renovação de antigos e já bastante desgastados padrões, e uma abertura para novos horizontes, onde os seus curiosos e prescrutadores olhos descortinam novas possibilidades e oportunidades.



     Foi emocionante observar as pessoas que passavam pela rua naquele momento, diminuirem o passo, pararem, chamarem a atenção das demais, maravilhados com o espetáculo que acontecia à sua frente. O silêncio, respeitoso, comprovou que a Arte tem um poder de harmonizar o ser humano, seja ela apreciada dentro de modernos ou vetustos museus, nos parques, jardins ou galerias, nas salas de concerto, nos grandes teatros ou nos circos que vagueiam pelas nossas estradas. A Arte foi reconhecida e apreciada, naquele início de noite, sendo feita num jardim de uma casa localizada no interior deste país de tamanho continental. Tão grande e emocionante como aquela executada nas famosas salas de concerto das principais cidades do mundo.
      Desde a sua instalação em 1956, o Conservatório Estadual de Música "Lia Salgado" tem sido ponto de referência e legítimo representante da arte, cultura e, em especial, da música em Leopoldina-MG e região. Revelando inúmeros talentos, despertado o gosto pela arte musical e a sensibilidade de várias pessoas que iniciaram sua formação nesta escola, seguiram seus estudos na área, graduaram-se, licenciaram–se e hoje estão novamente no Lia Salgado, colocando em prática seu aprendizado e ensinando música às novas gerações. Seu nome é em homenagem à Sra. Lia Salgado, cantora lírica, esposa do ex-governador de Minas Gerais, Clóvis Salgado.



     Quando a Fundação Ormeo Junqueira Botelho decidiu transformar a residência da família do Dr. Ormeo Junqueira Botelho, tinha esse propósito: que a casa viesse a ser um centro de referência e de aglutinação de todos aqueles que contribuem, com sua produção, para com a Cultura local e regional, bem como todo o cidadão desejoso de consumi-la, absorvendo-a através dos seus sentidos. A ENERGISA, então, como patrocinadora e mantenedora da Casa de Leitura Lia Botelho, possibilita que nossos jovens cidadãos tenham amplo acesso a bons livros, desenvolvendo o prazer pela leitura; que aprimorem seus conhecimentos através do novos recursos midiáticos, como o vídeo e os canais de rede disponibilizados pela internet; que seus professores possam estar em constante atualização profissional para poderem contribuir, cada vez mais, com a formação desses que são o futuro do nosso povo.
     Assim, quando recebemos a solicitação de um dos professores do Conservatório Musical Estadual Lia Salgado para a realização de um "ensaio aberto" (não uma apresentação já pronta, preparada, definitiva, mas ainda em processo de ensaio), a Coordenação da Casa de Leitura Lya Botelho ali identificou uma saudável e criativa possibilidade de colaborar para que as atividades e os movimentos culturais da nossa cidade abandonem o ranço elitista para "renascerem" jovens, dinâmicos, integrados à comunidade.
     Então, sem qualquer formalidade de convites ou avisos, esses jovens se reuniram, como o fazem todas as segundas-feiras, para praticarem a linguagem que amam: a música. Só que desta vez, ao ar livre, junto à natureza, em meio ao movimento da cidade que começava a se preparar para descansar da lide diária.
     Que surpresas agradáveis e importantes como essa aconteçam sempre, muitas vezes, nos mais diversos recantos de Leopoldina, para que nós, o povo, possamos delas desfrutar.