sexta-feira, 27 de março de 2015

OS FILHOS DA TERRA: "making of" de uma exposição

Painéis criados por Sabrina Ferreira / PR Comunicação Visual
Acredito que um bom número das pessoas que costumam visitar exposições, sejam elas quais forem, têm alguma curiosidade em saber como é que se "constrói" uma mostra. Como se escolhe o tema, o que motiva essa escolha, como se decide o estilo da apresentação, qual o esquema cromático da mesma, onde se buscam o acervo que a compõe, quem cria o cenário e seus equipamentos, quem cuida da iluminação, quem decide o que será exibido, enfim, uma série de perguntas, dúvidas ou curiosidades que temos quando visitamos um museu, uma galeria, um centro cultural, uma mostra pública, temática, etc


Pesquisa iconográfica
É natural que, com os eventos, especialmente os de mostras e exposições realizadas aqui na Casa de Leitura Lya Botelho não seria diferente e recebemos, através das mídias sociais e de e-mails, perguntas a respeito.
Como nos demais espaços culturais existentes, temos uma linha que nos norteia, um público alvo e um orçamento e, posso garantir, isso é o básico em toda e qualquer instituição, pública ou privada que se propõe a produzir e exibir algo.



Então, vamos lá:
  • ainda que estejamos sempre muito abertos para organizar mostras sobre os mais diversos assuntos ou personagens, buscamos priorizar os temas que tenham, de alguma forma, uma ligação com a nossa cidade ou região. Personalidades locais, eventos marcantes da comunidade, patrimônio cultural material ou imaterial pertencente ao nosso município, nossas origens, usos e costumes, são temas sempre muito apreciados e que ocupam um lugar bastante especial em nossos interesses quando temos de decidir.
  • desejamos que a Casa de Leitura Lya Botelho seja sempre vista como um local pluricultural e que atende a diversos interesses da população. Porém, todos aqueles que estudam, sejam os muito jovens que se iniciam nos primeiros contatos com a escola, os adolescentes, aqueles que que atendem a cursos profissionalizantes, os universitários ou os adultos que inteligentemente decidiram recuperar o tempo e se dedicam voluntariamente ao aprendizado, esse é um público pelo qual temos enorme carinho e para o qual dedicamos o melhor dos nossos esforços.
  • A Casa de Leitura Lya Botelho pertence à Fundação Ormeo Junqueira Botelho e é patrocinada pela ENERGISA. Portanto, graças aos recursos providenciados por essa empresa, cujas raízes nos trazem à memória personalidades ímpares da nossa história, é que podemos programar e realizar exposições além de todas as demais ações que fazem parte do nosso calendário anual de atividades.

Isto posto, cabe aquela pergunta: "e como é que se escolhe o tema e decide-se o que e como mostrar?"

Parte do material básico de consulta
Pois é, esse é um dos aspectos mais interessantes porque reside aí, na escolha do tema, a possibilidade de sucesso do evento. Acertar no que a maior parte da população gostaria de ver, conseguir transformar isso num "objeto" que caiba em nossa Sala de Exposição, pesquisar muito, escolher entre milhares de fotos e textos, identificar o que deve e pode ser destacado, o que é mais significativo dentro do conjunto de possibilidades de uso de material, essa é o que chamamos de "a Grande Arte".

Tenho muita sorte, como Coordenador da Casa de Leitura Lya Botelho e encarregado da produção das mostras, em ter como chefe Mônica Pérez Botelho, presidente da Fundação Ormeo Junqueira Botelho, uma interlocutora da maior qualidade. É com ela que discuto desde o tema, as primeiras idéias, até os menores detalhes. Ela me permite total liberdade de escolhas e sugestões e de resolver esteticamente a mostra dentro do meu conhecimento e gosto pessoal. Acredito que todos que trabalham nessa área específica gostariam de possuir exatamente isso: liberdade de criação mas sem também ficar isolado, à deriva, sem ninguém com quem dialogar. É nesse diálogo, nessa troca e na confiança que tenho em seu bom senso, conhecimento e experiência que busco opiniões e soluções, indicações, recomendações, apoio e conforto (sim, porque acontece de haver, às vezes, momentos difíceis, em que se tem de abrir mão de idéias consideradas geniais, de ser obrigado a reconhecer que algumas pretensões são pretensiosas demais, de impossibilidades técnicas construtivas e ter que trabalhar dentro da realidade espacial, temporal, de mão de obra, orçamentária possíveis) no longo processo entre a ideia original e o dia da abertura da exposição.

Aquisição de objetos: loja da FUNAI-RJ
O que e quanto se vai mostrar depende, evidentemente, do material possível de ser encontrado, coletado, emprestado ou adquirido. Se estivermos pensando em usar, por exemplo, o acervo de alguém falecido, precisamos verificar se o número de peças deixadas são representativas do ex-dono, em que condição estão e se existem em número suficiente para ocuparem o espaço e justificarem uma exibição. A Casa de Leitura Lya Botelho, por exemplo, tem uma Sala de Exposições com uma determinada medida e o que vamos mostrar tem que, necessariamente, caber no espaço e ainda sobrar lugar para circulação de visitantes. Pensem em 25 alunos, em média, mais uma ou duas professoras, dentro dessa sala. Temos que acomodar a todos e, inclusive, a exposição. Essa é uma condicionante importante. Dentro desse princípio sabemos que poderemos, um dia, exibir uma motocicleta, mas não caberá (nem passará pela porta) no recinto um, digamos, Ford Galaxy.

Daí vem a fase de pesquisa, de seleção e edição dos textos, imagens, objetos, mobiliário a ser utilizado e dos fornecedores que irão, na verdade, transformar idéias e projetos em realidade. Esse pessoal precisa ser mesmo muito bom, conhecedores do seu ofício, maleáveis com datas e horários de atendimento, receptivos a novas idéias e materiais de uso. Eles precisam muito mais que simplesmente executar um pedido: precisam entender a exposição, dissecá-la junto, em todos os seus detalhes, para então poderem realizar a "magica" da transformação. 

Se o fornecedor for do tipo que só sabe dizer que "isso não vai dar certo", "isso não vai ficar bom", "acho que você vai se arrepender quando estiver pronto", ele definitivamente não serve. Procure outro imediatamente. Falta-lhe ousadia, coragem e determinação, coisas que qualquer pessoa que trabalha criativamente e na área de produção de eventos necessita ter. 

Começa, então o tempo de execução, quando tudo está nas mãos dos fornecedores e a cada momento somos consultados para esclarecer algo, dizer como resolver determinado detalhe, responder a muitos "como é mesmo que você quer que fique?", e coisas mais técnicas e menos interessantes tais como problemas-surpresa com paredes que não estão estruturalmente alinhadas, portas e janelas demais no espaço que não podem ser eliminadas ou disfarçadas, tomadas e interruptores faltando ou, pior, colocadas exatamente onde não deveriam estar, e por aí vai.

Marcenaria: bases e suportes
Talvez, na minha experiência, os melhores momentos são aqueles em que o espaço começa a parecer transformado e você vê nascer a exposição. É quando o pintor lhe entrega o serviço e a cor escolhida permite exatamente o efeito pretendido. Quando chegam os móveis ou suportes, quando o pessoal da adesivagem recobre paredes e mais paredes com plotagens que parecem gigantescas se comparadas com as telas de computador onde você as criou. Quando começa o processo de colocar todo o material selecionado no seu devido lugar e de encontrar, então, outras e novas possibilidades de mostrá-lo, fugindo da timidez ou tirania dos primeiros croquis. É quando, depois de um dia de muito trabalho, quando o cansaço parece ser irreversível e você já está indo para casa descansar mas resolve voltar, só por mais um minuto, à Sala de Exposição, acende novamente as luzes e... está tudo lá! Do jeito que você sonhou, da maneira que imaginou, da forma que você montou, desmontou e tornou a  remontar, milhares e milhares de vezes em sua imaginação. 

É claro que a exposição, seja ela qual for, não é sua: é de todos e para todos. Portanto, a cada dia, em cada visitante, em cada aluno, professor, pais, avós, parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos você busca identificar se acertou ou não. No olhar, na expressão corporal, no número de fotos e selfies feitas, no tempo gasto na Sala de Exposição, no silêncio ou nas perguntas que o público nos faz é que vamos colhendo os resultados e obtendo a medida do alcance e significado do nosso trabalho, do nosso empenho em contribuir para a valorização e pleno acesso ao Conhecimento. 

Daí, quando se dá conta, já está na hora de colocar aquela "outra" ideia no papel e começar a "namorá-la", discuti-la, rabiscando maneiras, estratégias e formatos para que ela, também, um dia possa existir. E quando a gente percebe, já não se pensa em outra coisa senão "a próxima"!




Agradecimentos Especiais a estes Fornecedores e Amigos que ajudam (e muito!) a construir sonhos:

Geraldo Pintor, Carlos Wender Eletricista, Maria Lucia Braga, Romulo Nascimento, Cristian Henrique, Elias Abrahim Neto, Renata Arantes, Grupo Assum Preto e a turma toda da PR Comunicação: Sabrina, Priscila, Carlinhos, Rodinelle, Saulo, Thiago e Rubinho.
Nosso reconhecimento aos nossos amigos da Mídia, os jornalistas, radialistas, blogueiros e divulgadores que, generosamente, promovem o evento, tornando-o conhecido do grande público e registrando, para o futuro, a sua existência.

Nossa imensa gratidão e reconhecimento à nossa patrocinadora, ENERGISA e ao Apoio recebido da FOJB-Fundação Ormeo Junqueira Botelho e da SRE-Superintendência Regional de Ensino Leopoldina e Secretaria de Educação de Leopoldina.


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