terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Conhecendo a Casa de Leitura Lya Botelho

    
     Desde a sua inauguração, a Casa de Leitura Lya Maria Müller Botelho recebeu mais de 20.000 visitantes, entre estudantes, professores, pesquisadores, autoridades, turistas e o público de Leopoldina e seus distritos.
     Instalada na antiga residência do Dr. Ormeo Junqueira Botelho, a própria arquitetura atrai os olhares e estimula uma visita em seu interior. Casa de estilo das do sul dos Estados Unidos da América, reflete em sua majestosa arquitetura e na simetria de seus elementos uma forte inspiração Neo-Clássica. Portentosas colunas ladeiam sua ampla porta de entrada, enquanto pórticos e janelas internas são arrematadas com elementos criados e amplamente utilizados por Vitruvio, normatizador desse estilo.
    Os estudantes e professores, além dos pesquisadores que são frequentadores assíduos da Casa de Leitura, além de todo o conforto necessário para realizarem seus trabalhos (com bibliotecas especializadas, gibiteca, sala de vídeo, salas de leitura e pesquisa virtual à disposição), não importa quantas vezes tenham vindo, não deixam de visitar o Memorial Ormeo Junqueiro Botelho, no piso térreo da casa.
     Os que o conheceram em vida muito se emocionam ao adentrarem em seu escritório e poderem recordá-lo, novamente, em fotos. Os mais jovens, que desfrutam, muitas vezes sem o saber, de alguns dos benefícios que esse arrojado empreendedor criou em benefício de muitos (a Cia. força e Luz Cataguases-Leopoldina, hoje ENERGISA, por exemplo), passam bons momentos lendo sobre sua pessoa e seus feitos, enquanto podem admirar sua vasta biblioteca pessoal e alguns de seus pertences, dispostos sobre a sua escrivaninha de trabalho.
     Incansável trabalhador, Dr. Ormeo recebia amigos, empresários, políticos, pessoas em busca de conselhos, tratando a todos com a mesma distinção, sempre interessado em ouvir e compartilhar sua experiência. E como compartilhar era palavra de ordem no vocabulário desse engenheiro, as portas do seu escritório abrem-se para um imenso jardim onde o barulho discreto da água jorrando num lago encanta o olhar e ameniza as ensolaradas tardes da Zona da Mata.
     Numa das paredes, um texto sobre o Dr. Ormeo Junqueira Botelho foi disposto, para que todos possam saber um pouco mais do homem, do empreendedor, do visionário, do patriota e do dedicado pai de família. Esse texto, que é uma voluntária parada obrigatória de leitura para todos que visitam e frequentam a Casa de Leitura, é, certamente, ao descrever o grande homem, uma inspiração para que todos possam compreender que a ética, a moral, a compaixão e o apreço pelo semelhante, aliados ao trabalho constante e à determinação, são as bases para o sucesso em qualquer empreendimento.



     Reproduzimos, abaixo, o texto que resume o muito que o Dr. Ormeo Junqueira Botelho produziu e legou à posteridade:

     Ele dizia que amava por igual Cataguases e Leopoldina, as duas cidades que dão nome à empresa que ajudou a edificar. Perguntando sobre sua preferência, respondia que os semblantes das duas fundiam ou ainda que precisaria dividir seu coração em dois pedaços. Dignidade, arrojo, dedicação são palavras pequenas para dar idéia de grandeza de Ormeo Junqueira Botelho, o homem que durante mais de seis décadas esteve no comando da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina. Terceiro filho do senador Francisco de Andrade Botelho e de Maria Nazareth Monteiro Junqueira Botelho, ele nasceu na propriedade dos avós maternos, a Fazenda Nyagara, em Leopoldina.
     Construída há cerca de 160 anos, uma das mais tradicionais propriedades da região, por ali passaram várias gerações da família Junqueira. Era sempre para a Nyagara que o estudante Ormeo Junqueira Botelho se dirigia em suas férias. Não por acaso, mais tarde seria dos primeiros parlamentares a sensibilizar o governo, em 1962, sobre a necessidade de uma política voltada para a conservação do solo. Ele vai sempre defender o meio-ambiente, lutar pelo homem do campo. Essa será uma de suas preocupações quando co-fundador, em 1937, da Associação Rural de Leopoldina, onde foi vice-presidente por 11 anos e presidente por outros seis, de 1948 a 1954.
     Ormeo cursa o primário e o secundário no Ginásio Mineiro de Barbacena e, em 1913, presta exames para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Conclui o curso em novembro de 1917, colando grau como engenheiro civil em 18.03.1918. A vida profissional começa em Caxias, RS, onde é admitido em 1919 como auxiliar-técnico da inspetoria de Estradas de Ferro. Ele trabalha no estuda da estrada Caxias-Vacaria e é logo promovido a engenheiro auxiliar. Em 1920, Ormeo Junqueira Botelho ingressa na Cataguases-Leopoldina e tem como primeira empreitada o levantamento da planta da estrada de rodagem de Piacatuba-São João Nepomuceno. Logo passa a projetar linhas e redes de distribuidora em toda Zona da Mata, com o apoio do então eletricista Humberto Mauro, futuro pioneiro do cinema do Brasil. Em 1923, com a morte do pai, afasta-se temporariamente da Companhia, sendo designado por seus tios como sucessor paterno e tutor dos irmãos menores. Passa também a administrar a Fazenda Santo Antonio, de propriedade da família e grande produtora de café. Na ocasião, assume em Leopoldina a gerencia da Casa Bancária Ribeiro Junqueira Irmãos e Botelho e os negócios por ela controlados. Como por exemplo, as usinas de leite. Ele contrata um suíço especialista na fabricação de queijos, porque achava que a região não podia se limitar a produzis apenas “queijo de Minas”, precisava diversificar fabricando também queijos “tipo-europeu”. Obteve sucesso na produção de queijos do tipo Emmental e Gruyére. Foi dessa experiência que resultou a Cooperativa dos Produtores de Leite de Leopoldina, da qual foi um dos co-fundadores.
     Ormeo sucede o pai também como tesoureiro na Casa de Caridade de Leopoldina ate 1945, quando é eleito provedor e fica ate 1972. O “engenheiro-provedor” construiu o Pavilhão Nossa Senhora do Carmo e modernizou as instalações instituição. Em 1924, ele realiza o sonho do padre Júlio Fiorentini e cria o Orfanato Lenita Junqueira, sendo seu primeiro presidente. No mesmo ano é lançada a pedra fundamental da Companhia Força de Tecidos Leopoldinense, que abre as portas em 1926. Ormeo construiu o edifício da fábrica e a vila operária; é também um dos acionistas e, ate 1965, diretor-presidente, ano em que se demite.
     Em 15 de julho de 1924, Ormeo casa-se no Rio com a carioca Dora Müller Botelho. Tiveram cinco filhos, três homens e duas mulheres. O seu apoio, fibra e tranqüila coordenação da vida em família foram de grande importância para o seu êxito profissional. Era comum ouvi-lo dizer: “sem a Dorinha não sei se teria conseguido tanto!”. Em 1934, é escolhido por Olegário Maciel para a presidência do Instituto Mineiro do Café por indicação dos lavradores em lista quíntupla. Em sua gestão, funda o Banco Mineiro do Café juntamente com o Conselho do Instituto Mineiro de Café.
     Em 5.02.35, com a morte de Norberto Custódio Ferreira, então presidente da Cataguases-Leopoldina, finda-se o ciclo de atuação de seus fundadores. Antevendo as profundas mudanças por que passaria o setor elétrico com a promulgação do Código das Águas, José Monteiro Ribeiro Junqueira indica Ormeo Junqueira Botelho para da presidência da Companhia por considerar que ele possuía o perfil ideal. Em outubro do ano seguinte, dá mais uma demonstração de seu talento empresarial: une-se a José Inácio Peixoto e Severino Pereira para fundar a Companhia Industrial Cataguases onde foi diretor e conselheiro.
     Na década de 50 a Força e Luz enfrenta a onda estatizante apostando na qualidade de seus serviços. Ormeo Junqueira Botelho toma para si a responsabilidade de acompanhar passo a passo a Nova Usina Maurício, inaugurada em 1956.
     Nesse mesmo período, sabedor da necessidade de aumentar o capital da empresa, ele percorre a cavalo as fazendas da região para conseguir novos acionistas.
     Eleito deputado federal em 1962, o 14º mais votado pela UDN, seus pronunciamentos na Câmara sempre privilegiaram os interesses da região. Na ocasião, transmite a direção da Cataguases-Leopoldina para seu filho Ivan Müller Botelho. Cumprido o mandato, retorna às suas atividades profissionais. Ao mesmo tempo o engenheiro não parou. Nos anos 20, projeta a Catedral de São Sebastião, em Leopoldina, inspirada numa edificação francesa – e foi por sua influencia que, em 1943, a cidade passou a sediar o bispado. Também em Leopoldina, projetou e restaurou varias obras públicas e particulares ao longo de sua vida.
     Em 1977, aos 80 anos, transfere o cargo de presidente-executivo da CFLCL ao seu filho Ivan Müller Botelho. Embora oficialmente afastado, ainda orientou por mais 13 anos os rumos da empresa. Ele sempre procurou descomplicar a existência com as lições mais simples do cotidiano, entender a magnitude do outro, a grandeza de todo o ser humano. 
     Citava sempre Santo Agostinho: “Nada merece ser feito, mesmo que bem feito, se a alma não estiver no feito”. Espirituoso, era um otimista que sabia articular frases perfeitas para os momentos certos. “Todos procuram em nós a experiência da vida, quando o melhor que temos para dar é a essência de viver”.

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